Mostrando postagens com marcador poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poesia. Mostrar todas as postagens

domingo, 4 de dezembro de 2011

The Raven

O CORVO
Edgar Allan Poe (1845) - Tradução: Fernando Pessoa

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, 
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais, 
E já quase adormecia, ouvi o que parecia 
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais 
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais. 
É só isso e nada mais.» 

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro, 
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais. 
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada 
P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais — 
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais, 
Mas sem nome aqui jamais! 
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo 
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! 
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo, 
«É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais; 
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais. 
É só isso e nada mais». 

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, 
«Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais; 
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo, 
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais, 
Que mal ouvi...» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais. 
Noite, noite e nada mais. 

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando, 
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais. 
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita, 
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais — 
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais. 
Isto só e nada mais. 

Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo, 
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais. 
«Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela. 
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.» 
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais. 
«É o vento, e nada mais.» 

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, 
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais. 
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, 
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais, 
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais. 
Foi, pousou, e nada mais. 

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura 
Com o solene decoro de seus ares rituais. 
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado, 
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais! 
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.» 
Disse-me o corvo, «Nunca mais». 

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, 
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. 
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido 
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais, 
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais, 
Com o nome «Nunca mais». 

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, 
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. 
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento 
Perdido, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais 
Todos — todos lá se foram. Amanhã também te vais». 
Disse o corvo, «Nunca mais». 

A alma súbito movida por frase tão bem cabida, 
«Por certo», disse eu, «são estas vozes usuais. 
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono 
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais, 
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais 
Era este «Nunca mais». 

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, 
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; 
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira 
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais, 
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais, 
Com aquele «Nunca mais». 

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo 
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais, 
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando 
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais, 
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais, 
Reclinar-se-á nunca mais! 

Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso 
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais. 
«Maldito!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te 
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais, 
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!» 
Disse o corvo, «Nunca mais». 

«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta! 
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais, 
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida 
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais, 
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!» 
Disse o corvo, «Nunca mais». 

«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte! 
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! 
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! 
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!» 
Disse o corvo, «Nunca mais». 

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda 
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. 
Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha, 
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais, 
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais, 
Libertar-se-á... nunca mais!

*leia o original The Raven aqui

The Raven tem estreia prevista para 9 de março de 2012 nos EUA. 


*se o vídeo não apareceu clique aqui

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vincent - O poema


Vincent

Vincent Malloy is seven years old
He’s always polite and does what he’s told
For a boy his age, he’s considerate and nice
But he wants to be just like Vincent Price

He doesn’t mind living with his sister, dog and cats
Though he’d rather share a home with spiders and bats
There he could reflect on the horrors he’s invented
And wander dark hallways, alone and tormented

Vincent is nice when his aunt comes to see him
But imagines dipping her in wax for his wax museum

He likes to experiment on his dog Abercrombie
In the hopes of creating a horrible zombie
So he and his horrible zombie dog
Could go searching for victims in the London fog

His thoughts, though, aren’t only of ghoulish crimes
He likes to paint and read to pass some of the times
While other kids read books like Go, Jane, Go!
Vincent’s favourite author is Edgar Allen Poe

One night, while reading a gruesome tale
He read a passage that made him turn pale

Such horrible news he could not survive
For his beautiful wife had been buried alive!
He dug out her grave to make sure she was dead
Unaware that her grave was his mother’s flower bed

His mother sent Vincent off to his room
He knew he’d been banished to the tower of doom
Where he was sentenced to spend the rest of his life
Alone with the portrait of his beautiful wife

While alone and insane encased in his tomb
Vincent’s mother burst suddenly into the room
She said: “If you want to, you can go out and play
It’s sunny outside, and a beautiful day”

Vincent tried to talk, but he just couldn’t speak
The years of isolation had made him quite weak
So he took out some paper and scrawled with a pen:
“I am possessed by this house, and can never leave it again”
His mother said: “You’re not possessed, and you’re not almost dead
These games that you play are all in your head
You’re not Vincent Price, you’re Vincent Malloy
You’re not tormented or insane, you’re just a young boy
You’re seven years old and you are my son
I want you to get outside and have some real fun.”
Her anger now spent, she walked out through the hall
And while Vincent backed slowly against the wall
The room started to swell, to shiver and creak
His horrid insanity had reached its peak

He saw Abercrombie, his zombie slave
And heard his wife call from beyond the grave
She spoke from her coffin and made ghoulish demands
While, through cracking walls, reached skeleton hands

Every horror in his life that had crept through his dreams
Swept his mad laughter to terrified screams!
To escape the madness, he reached for the door
But fell limp and lifeless down on the floor

His voice was soft and very slow
As he quoted The Raven from Edgar Allen Poe:

“and my soul from out that shadow
that lies floating on the floor
shall be lifted?
Nevermore…”

Em 1982, o diretor de cinema Tim Burton transformou seu poema Vincent em um curta-metragem lindíssimo. Você pode ver clicando aqui