terça-feira, 26 de agosto de 2008

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Circusmuseum.nl



Pelo blog Lost Art, que pertence à revista Superinteressante, fiquei conhecendo um site muito bacana que vende pôsteres antigos de circo.
Mas só vou colocar aqui o link para o Circusmuseum porque o site em si já é muito legal. Além dos posters que estão à venda e que são sensacionais.
Destaque para os freaks, para o narrador e sua voz super circense e para a beleza dos desenhos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O visionário

Hoje me peguei pensando: "Se eu tivesse que escolher um arquiteto, um dos gênios, um dos maiores, aquele com o qual você se identifica absolutamente, qual eu escolheria?"
O Flávio de Carvalho. Sim. Não é o Paulo Mendes da Rocha, nem o Lelé, apesar de eu ser fã incondicional dos dois.

Flávio com berrante, anos 60

Flávio de Rezende Carvalho foi um visionário. Nascido em 10 de agosto de 1899 em Barra Mansa, RJ, foi um dos maiores nomes do modernismo brasileiro. Era arquiteto, engenheiro, cenógrafo, pintor, teatrólogo, performista, escritor e filósofo. Engenheiro de formação, mas arquiteto genial.

O arquiteto

Uma de suas obras mais famosas são as casas da vila modernista na Al. Lorena em São Paulo. Infelizmente só restou uma mais ou menos inteira (acho que é uma... ou duas talvez...).





O performático

A experiência nº 02

07 de junho de 1931.

Manchete do jornal O Estado de São Paulo do dia seguinte:

NA PROCISSÃO, UMA EXPERIÊNCIA SOBRE A PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES DA QUAL RESULTOU SÉRIO DISTÚRBIO

Domingo, às 15 horas, quando desfilava pelas ruas do centro da cidade a procissão de Corpus Christi, um rapaz muito bem posto, que se achava na esquina da rua Direita e Praça do Patriarca, não se descobriu, conservando ostensivamente seu chapéu na cabeça.
Os crentes, que acompanhavam o cortejo, revoltaram-se com esta atitude e exigiram em altos brados que ele se descobrisse. Ele, no entanto, sorrindo para a turba, não tirou o chapéu, embora o clamor da multidão já se tivesse transformado em franca ameaça. Foi então que inúmeros populares tentaram linchá-lo, investindo contra ele. O rapaz pôs-se em fuga, ocultando-se na Leiteria Campo Bello, situada à rua São Bento, até onde foi perseguido pelos mais exaltados.
O sub-delegado de plantão na Polícia Central compareceu ao local, onde deu garantias ao moço, protegendo-o contra a ira do povo.
Na Polícia Central para onde foi conduzido, declarou a vítima da exaltação popular o engenheiro Flávio de Carvalho, de 31 anos de idade, residente à Praça Oswaldo Cruz.
Nas suas declarações, disse que há tempos se vem dedicando a estudos sobre a psicologia das multidões e tem mesmo alguns trabalhos inéditos sobre a matéria. Para melhor orientação dos seus estudos, resolvera fazer uma experiência sobre a "capacidade agressiva de uma massa religiosa à resistência das forças das leis civis, ou determinar se a força da crença é maior do que a força da lei e do respeito à vida humana".

Alguns trechos de seu livro Experiência Nº 02:



"Contemplei por algum tempo este movimento estranho de fé colorida, quando me ocorreu a idéia de fazer uma experiência, desvendar a alma dos crentes; por meio de um reagente qualquer que permitisse estudar a reação nas fisionomias, nos gestos, no passo, no olhar, sentir enfim o pulso do ambiente, palpar fisicamente a emoção tempestuosa da alma coletiva, registrar o escoamento dessa emoção, provocar a revolta para ver alguma coisa inconsciente. Dei meia volta, subi rapidamente em direção da catedral, tomei um elétrico, e meia hora depois voltava munido de um boné."

"Tomei logo a resolução de passar em revista o cortejo, conservando o meu chapéu na cabeça e andando em direção oposta a que ele seguia para melhor observar o efeito do meu ato ímpio na fisionomia dos crentes. A minha altura, acima do normal, me tornava mais visível, destacando a minha arrogância, e facilitando a tarefa de chamar atenção. A princípio me olhavam com espanto — me refiro à assistência, porque aqueles que eram da procissão se portavam diferentemente, eles eram os eleitos de deus, os escolhidos, e formavam uma massa em movimento lento, contrastando em qualidade com a assistência imóvel; eram, portanto, praticamente, o único movimento de todo o imenso percurso da procissão, e esta situação de movimento naturalmente exigia o monopólio da atenção geral, e uma presença perturbadora como era a minha deveria influir diretamente na procissão em movimento e na assistência."

"Uma delas, porém, destoou claramente das outras. Era uma moça alta, um tanto cheia, tinha o nariz arcado e segurava um estandarte. Ela se parecia mais com um sargento da cavalaria que com a filha da Virgem, seu olhar francamente agressivo me escrutava. Não podia ouvir o que ela dizia em voz baixa a sua companheira, mas os seus lábios pareciam proferir injúrias do mais baixo calão. Tenho certeza de que se estivesse ao seu alcance seria unhado e mordido sem reservas."

"Abri os meus braços num gesto patriarcal e patético expliquei com doçura: "eu sou um contra mil..." a agitação imediatamente cresceu e todos pareciam discutir indecisos entre si. Repeti novamente o que queria dizer. O barulho da discussão aumentou o volume. Fiquei parado sem saber o que fazer, temendo me retirar bruscamente porque sem dúvida seria esmagado e estraçalhado. [...] A massa tinha reagido pela emotividade ancestral, e não pelo raciocínio. [...] Olhei para as caras a minha frente, todas homicidas, vindicativas, revoltadas, todas em expectativas. [...] Um rumor de desagrado percorreu a multidão, "mata... pega..." gritou alguém. [...] Estava prestes a largar o verbo quando alguém grita "lincha!"; vejo uma parte da multidão que quer se precipitar sobre mim, mas é acidentalmente impedida pela confusão reinante."

A experiência nº 03

A Experiência número 3 consistiu em um passeio pelo centro de São Paulo com uma roupa unissex, por ele concebida, pensando na elegância, comodidade e higiene do verão das grandes cidades. Ele criou este estilo de roupa por duas razões: primeiro, ele acreditava que era necessário criar uma moda unissex, como consequência do já existente nivelamento entre homens e mulheres; ambos deviam dividir o mesmo tipo de roupa. Segundo, ele acreditava que era necessário criar um tipo de roupa para executivo adequado para os trópicos. Ele estava convencido de que as roupas deles — ternos europeus de tecido de casimira inglesa ou brim — eram impróprios para o calor do verão, porque não tinham ventilação e eram portanto anti-higiênicos. Apesar da brutal diferença climática, a moda brasileira insistia em imitar o estilo dark europeu, adotando pesados casacos, chapéus de feltro, calças de lã e gravatas largas e compridas.

Assim Flávio de Carvalho criou um estilo de roupa com buracos na altura da axila que permitia a renovação do ar entre o corpo e o tecido e enquanto o movimento das pernas permitiam a renovação do ar entre a saia e as pernas. O colarinho devia ser largo e não devia obstruir a circulação do sangue. Sua existência era apenas para psicologicamente favorecer a quem sofria de complexo de inferioridade. As meias mais adequadas eram as do tipo arrastão que ele encontrou em uma loja de balé. Sua função era a de esconder as veias que certas pessoas têm. A jaqueta bem aberta tanto na cintura como no colarinho permitia a circulação vertical do ar dentro da roupa. Para a sandália, como não teve tempo de pensar em nada exclusivo, adotou um modelo comum.

A inusitada roupa de Flávio de Carvalho provocou choque e muita controvérsia em São Paulo. Desta vez não era a Igreja nem a Polícia que se sentiam agredidas por suas performances, mas os homens em geral. Ele deixou a própria imprensa perplexa com a sua proposta. Alguns acreditaram que ele era um louco, outros que era um homossexual exibicionista. Ele desfilou pelas ruas pelo menos duas vezes, apresentando modelos de blusa ligeiramente diferentes, e em uma, ele exibe um chapéu branco.




O pintor, o artista.

Retratos

Retrato do prof. Pietro Maria Bardi, 1964
óleo sobre tela
MAB - FAAP


Retrato de Burle Marx, 1952
óleo sobre tela
90 x 70 cm
Coleção Sérgio Fadel

Retrato de Mário de Andrade, 1939
óleo sobre tela
Pinacoteca Municipal / Centro Cultural São Paulo

Retrato de Murilo Mendes, 1951
óleo sobre tela
100 x 70 cm
Coleção Gilberto Chateaubriand

Série Trágica

Nesta série, Flávio de Carvalho demonstrou através do desenho imagens da agonia de sua mãe em seu leito de morte.

Série trágica, IX, 1947
carvão sobre papel
68,6 x 51 cm
Museu de Arte Contemporânea da USP


Série trágica, I, 1947
carvão sobre papel
69,9 x 51 cm
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo

Série trágica, V, 1947
carvão sobre papel
68,4 x 51,3 cm
Museu de Arte Contemporânea da USP

Série trágica, VII, 1947
carvão sobre papel
69,4 x 50,4 cm
Museu de Arte Contemporânea da USP


sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Adeus a Athos Bulcão

Quando estive em Salvador, em 2004 se não me engano, tive a maravilhosa oportunidade de conhecer mais de perto o trabalho do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Aliás, fico realmente envergonha de ainda não ter escrito nada no meu blog a respeito deste grande arquiteto e mestre.
Quando estávamos andando pelo Hospital Sarah Kubitschek, Lelé comentou a tristeza que era seu grande amigo, Athos Bulcão, não estar muito bem de saúde. Vimos os trabalhos que Athos fez no Sarah e, em Brasília, eu já tinha tido a oportunidade de veslumbrar suas obras como a fachada do Teatro Nacional de Brasília.
Abaixo o texto que saiu no portal do "Estadão".

Morre o artista Athos Bulcão, aos 90 anos

Autor dos famosos azulejos e outras obras que marcam a cidade de Brasília desde sua construção

Da Redação


Athos Bulcão, em sua residência em Brasília, em 2005

Celso Junior/AE

Athos Bulcão, em sua residência em Brasília, em 2005

SÃO PAULO - O artista plástico Athos Bulcão, que completou 90 anos no último dia 2 de julho morreu nesta quinta, 31, de parada cardíaca decorrente de complicações do mal de Parkinson, segundo confirmou o Hospital Sarah Kubitschek de Brasília. O pintor, escultor e ceramista, que se tratava há anos do mal de Parkinson, estava internado há quatro meses e morreu lúcido. O corpo será velado a partir das 17 horas no Palácio do Buriti, antiga sede do Governo do Distrito Federal, e será sepultado nesta sexta, no Cemitério do Campo da Boa Esperança, em Brasília.

O artista fez parte da história da construção de Brasília, por ter criado inúmeras obras de arte ligadas à arquitetura da cidade, compondo o projeto visual do arquiteto Oscar Niemeyer. Ao seu lado, Athos Bulcão desembarcou em Brasília, em 1958, quando a cidade ainda era um canteiro de obras. Nas artes, o trabalho que mais o fascinava era o das artes plásticas ligadas à arquitetura.

Niemeyer, aos 100 anos de idade, lamenta a perda do amigo: "Ele era um velho amigo meu. Trabalhou comigo desde os tempos da Pampulha. Foi muito útil na integração da arquitetura com as artes plásticas. Era um artista muito sensível, um sujeito decente, correto, íntegro, um grande amigo. De modo que o desaparecimento dele causa certa mágoa".

Bulcão é autor dos famosos azulejos ícones da cidade, entre várias de suas obras urbanas. Uma das mais impactantes na capital federal é a fachada do Teatro Nacional Cláudio Santoro, em que trabalha com o jogo de luz e sombra comandado pelo sol sobre blocos de concreto pré-moldado. Ou, as paredes de azulejo do Palácio do Itamarati, a parede da igrejinha Nossa Senhora de Fátima, os corredores do centro de recuperação do Hospital Sarah Kubitschek, o painel de mármore e granito que envolve o Memorial Juscelino Kubitschek, entre muitas outras. Sua parceria com Niemeyer fez seus painéis chegarem à França, Itália e Argélia.

Ainda jovem, Bulcão foi assistente de Portinari, com quem trabalhou como assistente no Mural de São Francisco de Assis na Pampulha, em 1945, aprendendo com o mestre lições que aplicaria mais tarde. Era amigo de grandes nomes das artes e das letras nacionais, como Carlos Scliar, Pancetti, Milton Dacosta, Burle Marx, Jorge Amado, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, entre outros.

Os amigos passaram a fazer parte de sua vida após deixar o curso de Medicina, no terceiro ano, em 1939. Ele nasceu no bairro do Catete, no Rio Janeiro, em 1918. Expôs pela primeira vez em 1940, no Salão Nacional de Belas Artes e ganhou seu primeiro prêmio no mesmo evento do ano seguinte. Estudou na França de 1948 a 1950, quando voltou ao Brasil. A partir de 1955 começou a trabalhar com Niemeyer e em 1958 decidiu viver em Brasília, apaixonado pela claridade da cidade: "o Rio de Janeiro tem muita claridade, mas nenhuma luz", dizia ele.

A Fundação Athos Bulcão foi criada em 18 de dezembro de 1992, para promover e divulgar sua obra, entre outras atividades artísticas.

Obra de Bulcão: Painel de Mármore e Granito (1975) que envolve o Memorial Juscelino Kubitschek, em Brasília. Foto: Divulgação
A obra de Bulcão integrou o projeto visual do arquiteto Oscar Niemeyer. Na foto, Painel de azulejos (1983) do Palácio do Itamarati, em Brasília. Foto: Divulgação

Uma das obras de Bulcão mais impactantes em Brasília é a fachada de mármore em relevo do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Foto: Divulgação

Painel de azulejos da igrejinha Nossa Senhora de Fátima, em Brasília. Foto: Divulgação


Na foto, Marianne Peretti, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti, Oscar Niemeyer, José Sarney e Burle Max. Foto: Jason Magno/AE

Bulcão fez parte da história da construção de Brasília, por ter criado cerca de 180 obras de arte ligadas à arquitetura da cidade. Na foto, Painel Pintado no Teto (1959), na Capela da Alvorada. Foto: Divulgação